Guto Lacaz


Guto Lacaz


Guto Lacaz obras e biografia - Guia das Artes


Biografia


Data de nascimento de Guto Lacaz: 20-09-1948 Local de nascimento: (Brasil / São Paulo / São Paulo) 
 
Carlos Augusto Martins Lacaz (São Paulo, São Paulo, 1948). Artista multimídia, ilustrador, designer, desenhista e cenógrafo. Forma-se em eletrônica industrial pelo Liceu Eduardo Prado, em 1970, e em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São José dos Campos, São Paulo, em 1974. É editor de arte das revistas Around/AZ e Via Cinturato. Entre 1978 e 1984, leciona comunicação visual e desenho de arquitetura na Faculdade de Artes Plásticas da Pontifícia Universidade Católica - PUC, de Campinas. Em São Paulo, leciona no Colégio Iadê, no curso de arquitetura na Faculdade de Belas Artes e no curso livre Artur Cole, entre 1981 e 1984. Realiza performances como Eletro-Performance (1984); Estranha Descoberta Acidental (1984); O Executivo Heavy Metal (1987); Espetáculo Máquinas II (1999), entre outras. Na década de 1990, ilustra os livros Crescente: 1977-1990, de Duda Machado; Num Zoológico de Letras, de Régis Bonvicino (1955); e o Balé dos Skazka's, de Kátia Canton (1962). Em 2005, publica o livro Desculpe a Letra, que reúne desenhos realizados para a coluna da jornalista Joyce Paschowith, no jornal Folha de S. Paulo.


Análise


A produção de Guto Lacaz transita entre o design gráfico, a criação com objetos do cotidiano e a exploração das possibilidades tecnológicas na arte, sempre tratados com humor e ironia, como é possível notar em Crushfixo (1974), um de seus primeiros trabalhos, ou em Fuscão Preto no Acapulco Drive-In (1981), no qual, por meio de uma maquete, associa uma canção popular à música de vanguarda do compositor Arrigo Barnabé (1951).

Vários de seus trabalhos relacionam-se ao universo da mídia e do consumo, como Óleo Maria à Procura da Salada (1982), em que uma lata de óleo se desloca em uma bandeja equipada com radares, ou Ono (1991), obra em homenagem ao arquiteto Walter Ono, criada a partir de um embalagem de sabão em pó. Lacaz realiza também grandes instalações, como Auditório para Questões Delicadas (1989), na qual faz uma intervenção no parque Ibirapuera, em São Paulo. Instala, no meio do lago do parque, seqüências de cadeiras, que, por meio de estruturas ocultas, parecem flutuar na água. Em Cosmos (1991), definida pelo artista como uma livre interpretação da mecânica celeste, dispõe, em uma sala escura, pedestais de diferentes alturas, cujos motores elétricos fazem com que pequenas esferas brancas descrevam orbitais que variam em direção, diâmetro e velocidade. Ao percorrer a instalação, o espectador tem a sensação de estar caminhando por entre os corpos celestes.
Guto Lacaz realiza ainda diversas performances, como Espetáculo Máquinas II (1999) ou Eletro Performance (1984), que tem como participantes a atriz Cristina Mutarelli (1957), o arquiteto Javier Borracha e o irmão do artista Nenê Lacaz, entre outros.



Outras informações de Guto Lacaz: 

  • Outros nomes
    • Carlos Augusto Martins Lacaz
  • Habilidades
    • professor de artes plásticas
    • Ilustrador
    • Artista multimídia
    • designer
    • Arquiteto
    • desenhista
    • Cenógrafo

 

 

Video documentário de 42:45" sobre a obra de Guto Lacaz, importante artista e designer paulistano, responsável por obras em diversas linguagens e suportes. O vídeo traça um panorama sobre a obra do artista e designer, abordando a trajetória de sua obra do desenho, ao objeto, à instalação e à intervenção urbana.

 

 

Obras de Guto Lacaz: 

 

Guto apresenta sua obra Acionada à distância por pistola de raio laser 

30 anos de arte   

Imagem representativa do artigo




Cheque mate é uma das obras mais interessantes de Lacaz, nela ele representa que ao sentido das espressões nem sempre condize com a representação física.

 

 Abajour branco é outra obra interessante de Lacaz, nela a parte mais curiosa são os materiais utilizados. A partir de materiais triviais ele cria uma objeto elaborado e mostra que a plástica dos objetos não dependem de materiais nobres.

 

 

 

 

    

                                Guto Lacaz, “Auditório para questões delicadas”             Parque do  Ibirapuera, São Paulo, 1989  Foto Rômulo Fialdini 



Invenção e descoberta nas intervenções em espaços públicos

Em 1989, durante algumas semanas, quem visitasse ou passasse pelas avenidas lindeiras ao Parque do Ibirapuera podia observar vinte e cinco cadeiras flutuando sobre o lago. Dispostas em cinco filas de cinco cadeiras, todas voltadas para o mesmo lado, conformavam um recinto desolado, sem público ou espetáculo. Obra passível de múltiplas leituras, ao menos duas são lembradas pelo arquiteto, designer e artista plástico Guto Lacaz, autor da intervenção Auditório para questões delicadas (1). A primeira é a sintonia com o sociedade da época, quando o país restabelecia a democracia após duas décadas de ditadura militar e o tema dos direitos humanos saía dos bastidores para ocupar o palco do debate político. A segunda aponta para um horizonte mais largo, como se vê na história mística narrada pelo autor: alguém disse ter visto um monge budista japonês reverenciando em posição de lótus o auditório repleto de espíritos.


Guto Lacaz, “Auditório para questões delicadas”, teste de flutuação em piscina caseira, São Paulo, 1989             
Foto divulgação       
A apropriação pelo público, sempre variada, é a ponta final de um processo longo, que envolve concepção, resolução, construção e instalação. A convite da Secretaria da Cultura da prefeitura da capital paulista, na ocasião comandada por Marilena Chauí, Lacaz pesquisa a flutuação das cadeiras e chega a uma versão em madeira e isopor como base submersa, que naufraga no dia seguinte à inauguração. O artista pesquisa em uma piscina caseira por mais três meses e chega a uma solução adequada com alumínio e flutuadores. Os jornais, que destacam em manchete o fracasso, noticiam com comedimento o sucesso. Mas na memória de muitos resta a beleza desconcertante do auditório mágico, que Lacaz sintetiza como “poético, surrealista, dadaísta” (2).
Guto Lacaz, “Periscópio”, Arte/cidade 2, edifício Alexandre Mackenzie, São Paulo, 1994
Foto Nelson Kon 
Desde esta obra pioneira de 1989 Guto Lacaz tem produzido obras inseridas no contexto urbano com constância e impacto. O Periscópio (3), concebido para o evento Arte/cidade 2 – a cidade e seus fluxos, de 1994, é outra obra efêmera de enorme sucesso de público. Instalado na fachada do edifício Alexandre Mackenzie, a construção parasitária em cor amarela abriga dois espelhos inclinados em 45o e permite que os transeuntes da calçada no rés-do-chão e os visitantes da exposição no sétimo pavimento se observem frente a frente, ilusão que sugere uma conversa impossibilitada pela distância. Não são poucas as pessoas que visitam a exposição de forma voluntariosa, sem conhecimento prévio da mostra, apenas sequestrados pela engenhoca espirituosa ou convidados pelos gestos e mímicas divertidos do público no piso superior.
Guto Lacaz, “OFNI – objeto flutuante não identificado”, Lago Paranoá, Brasília, 2011
Foto Leonardo Crescenti 

 

Guto Lacaz, “OFNI – objeto flutuante não identificado”, projeto, Lago Paranoá, Brasília, 2011
Desenho de Guto Lacaz
Em 2011, convidado pelo curador Wagner Barja do evento “Aberto/Brasília” para uma intervenção urbana na capital federal, Guto Lacaz decide por uma nova experiência na água e escolhe o Lago Paranoá. A obra OFNI – objeto flutuante não identificado (4) pode ser descrita como um cubo branco montado sobre uma base de caixas de isopor de 170 litros aparafusadas sustentando motor de popa, bateria e condutor, com outras tantas caixas de igual porte empilhadas fazendo o fechamento. O nome divertido surge durante sua realização, uma referência brincalhona ao caráter místico e às ocorrências de discos voadores na mitologia local.


Guto Lacaz, “OFNI – objeto flutuante não identificado”, Lago do Parque do Ibirapuera, São Paulo, 2012
Foto Edson Kumasaka

Guto Lacaz, “OFNI – objeto flutuante não identificado”, projeto, Lago do Parque do Ibirapuera, São Paulo, 2012
Foto Edson Kumasaka 
A boa ideia parece inviável de se realizar pois impera no lago imenso águas tormentosas, devidamente apaziguadas após homenagem a Oxum, que permite o passeio do OFNI nas águas plácidas do Paranoá. O objeto é replicado no ano seguinte, em 2012, com a intervenção OFNIS – Objetos Flutuantes Não Identificados, dois cubos brancos com escotilhas circulares instalados no Parque do Ibirapuera no dia de aniversário de 458 anos de São Paulo (5). O enorme público recebido pelo parque em dia de festa se aglomera às margens ou sobre a ponte para observar o elegante bailado dos cubos sobre as águas estagnadas do lago.
Guto Lacaz, “Ondas d’água”, Sesc Belenzinho, São Paulo, 2011, restaurado em 2017
Foto Edson Kumasaka
Guto Lacaz, “Ondas d’água”, croqui, Sesc Belenzinho, São Paulo, 2011
Foto Edson Kumasaka 
No mesmo ano Lacaz é convidado a realizar uma obra em espaço livre na unidade Belenzinho do Sesc de São Paulo. O artista decide instalar quatro peças no espelho d’água frontal ao edifício principal, espécie de chafarizes com funcionamento similar ao monjolo tradicional de moinhos, onde a água corrente é a força motriz.



 O resultado formal – intitulado Ondas d’água (6) – é engenhoso e elegante: sustentada por um pequeno mastro vertical, uma haste em aço inox com dupla curvatura na forma de onda se movimenta como gangorra; a oscilação da peça sugere o movimento interminável de um moto-perpétuo e é resultado do represamento da água no interior da peça curva, que reclina com o peso acumulado até a queda do conteúdo no espelho d’água.
Guto Lacaz, “Ondas d’água”, Sesc Belenzinho, São Paulo, 2011
Foto Edson Kumasaka 
Guto Lacaz, “Ondas d’água”, Sesc Belenzinho, São Paulo, 2011, desenho para restauração em 2017
Foto Edson Kumasaka 
Em alguma medida, as quatro peças lembram as esculturas aquáticas de Jean Tinguely na Praça Stravinsky, ao lado do Beaubourg parisiense. Em pouco mais de um ano – por falta de manutenção adequada, invasão constante de crianças em busca das moedas jogadas por visitantes e problemas no próprio desenho das peças – a obra se quebra e é desativada; o artista faz várias incursões propondo o restauro da obra, mas que só ocorre recentemente, em 2017, quando a curadora Adelina von Fürstenberg inclui a obra na mostra Água. Para o conserto, as peças são integralmente modificadas e ganham um desenho mais sintético e apurado.

Guto Lacaz, “Claudio Leonardo Orlando Villas Boas”, conjunto instalado, Parque Estoril, São Bernardo do Campo, 2012
Foto Edson Kumasaka 

Guto Lacaz, “Claudio Leonardo Orlando Villas Boas”, artista carregando turbina, Parque Estoril, São Bernardo do Campo, 2012
Foto Edson Kumasaka 
Ricardo Ribenboim, da Base7 Projetos Culturais, é o responsável por outra realização de caráter público de Guto Lacaz. Feita em 2012, com recursos já viabilizados, a encomenda prevê um objeto fixo no Parque Villas-Lobos. O artista concebe então três hastes verticais encimadas por turbinas eólicas com três pás cada. A demora pela aprovação coloca em cena a alternativa do Parque Villas Boas, descartada imediatamente por Lacaz devido à precariedade da manutenção do lugar, mas resta o desejo do artista em homenagear os irmãos antropólogos que batizam o parque.
Guto Lacaz, “Claudio Leonardo Orlando Villas Boas”, projeto, Parque Estoril, São Bernardo do Campo, 2012
Desenho de Guto Lacaz 
Guto Lacaz, “Claudio Leonardo Orlando Villas Boas”, projeto da turbina, Parque Estoril, São Bernardo do Campo, 2012
Desenho de Guto Lacaz 
Assim, o conjunto eólico Claudio Leonardo Orlando Villas Boas (7) vai habitar o Parque Estoril, em São Bernardo do Campo, terceira e derradeira localização da obra. Como é habitual em seus objetos móveis, houve problemas no funcionamento: devido o desenho inadequado, as pás não giram inicialmente; e, quando o problema é solucionado, não demora muito e as pás somem – desmontam sozinhas ou são roubadas, ninguém sabe ao certo. Atualmente o arquiteto Paulo Masson está restaurando a obra, sob o comando de Lacaz.

Guto Lacaz, “Ulysses, o elefante biruta”, Parque Pedreira do Chapadão, Campinas, 2014
Foto Edson Kumasaka 

Guto Lacaz, “Ulysses, o elefante biruta”, construção, Parque Pedreira do Chapadão, Campinas, 2014
Foto divulgação 
Ulysses, o elefante biruta (8), obra permanente para o Parque Pedreira do Chapadão de Campinas em 2014, é realizado a convite de Sylvia Furegatti e Marco do Valle, professores do Instituto de Artes da Unicamp e responsáveis pelos convites a artistas promovidos pela Secretaria de Cultura da prefeitura local.



 A ideia do elefante biruta, suspenso do chão pela própria tromba, ocorre a Lacaz alguns anos antes, quando é convidado por Flávio Cassalarde a conceber uma intervenção para uma praça em reforma na capital Belo Horizonte; lá havia um poste que não poderia ser removido e o desafio era usá-lo como suporte para uma obra de arte. O projeto não prossegue devido o orçamento incompatível, é arquivado e anos depois recuperado para o parque campineiro.

Guto Lacaz, elefantes em obras gráficas
Imagem divulgação 
Guto Lacaz, “Ulysses, o elefante biruta”, projeto, Parque Pedreira do Chapadão, Campinas, 2014
Foto Edson Kumasaka 
Questionado sobre a incompreensível fonte de inspiração para um objeto tão nonsense, o artista declara seu amor pelo animal e a presença constante do paquiderme em sua obra gráfica e objetual. Com a colaboração do engenheiro Ernesto Tuneo, Lacaz projeta e constrói, usando aço dobrado e soldado, um elefante branco em grande escala, que gira ao vento como uma biruta de aeroporto. Ilustrando de forma involuntária a máxima do artista em apresentações performáticas – “teatro infantil-adulto”, dizem as placas a respeito da classificação etária –, o insólito elefante contraria o bom senso ao desafiar a gravidade e o comportamento normal dos corpos, tornando realidade o que só é possível em cartuns e desenhos animados.

Guto Lacaz, “18”, barco de 18 remos, Parque do Ibirapuera, São Paulo, 2015
Foto Abilio Guerra 


Guto Lacaz, “18”, barco de 18 remos, projeto, Parque do Ibirapuera, São Paulo, 2015
Desenho Guto Lacaz 

Em 2015, novamente no dia do aniversário de São Paulo, o artista retorna ao lago do parque para apresentação de nova invenção. Trata-se do 18 (9), barco com dezoito remos articulados que se move pelo esforço de uma única pessoa. Ao explicar o nome – derivado diretamente do número de remos –, o artista se refere a duas fontes autônomas de inspiração. A primeira são os remadores portenhos, que observou em um rio ao se dirigir para o embarque no aeroporto de Buenos Aires. Diante do trânsito aquático, imagina atletas e barcos fundidos em uma única dupla de condutor e embarcação, enquanto braços e remos seriam múltiplos. A segunda inspiração é a invenção no 18 de Santos Dumont, curiosamente uma embarcação, não um balão ou avião, apresentado publicamente em 1907. Trata-se de um barco com flutuador central alongado, nivelado por dois flutuadores menores posicionados lateralmente, com hélice de três pás alocada acima do barco e movida por um motor Antonieta V-16.


Santos Dumont, “Invenção no 18”, barco hidro-flutuador à hélice, Paris, 1907
Foto divulgação [Cartão postal]


Guto Lacaz, “18”, barco de 18 remos, novo modelo em teste, raia olímpica da USP, São Paulo, 2017
Foto divulgação 

Com respeito reverente a Santos Dumont (10), Lacaz define o flutuador com proporções semelhantes às desenhadas pelo grande inventor brasileiro, mas rejeita a solução inflável e opta por chapas de alumínio de seis metros, base para a modulação que determina os dezoito remos. Devido à dificuldade de dirigibilidade e condução, que causaram alguns incidentes no dia de festejo, a embarcação passa por reforma geral, com redesenho de peças e componentes, e está atualmente no estágio de testes na raia olímpica da USP.

Guto Lacaz, “Biciclóptica”, croqui original, Largo da Batata, 2015
Desenho Guto Lacaz

Guto Lacaz, “Biciclóptica”, projeto, Largo da Batata, 2015
Desenho Guto Lacaz 

Por fim, duas obras públicas que são apresentadas no Largo da Batata e tematizam o círculo, figura geométrica da predileção de Guto Lacaz. A primeira, a Biciclóptica (11), é uma obra efêmera hiper-interativa, bancada pelo próprio artista: uma bicicleta com outras sete rodas acopladas em um suporte em forma de círculo, onde o atrito entre um pneu e outro permite que todas elas girem na mesma velocidade da bicicleta quando em movimento. O fechamento do vão ocupado pelos raios é feito com PS – poliestireno, tipo de plástico muito fino –, alternando suas metades em cores branco e preto. 


O efeito óptico é muito impactante, como se a realidade fosse invadida por uma animação. Sua aparição no espaço público não ultrapassa uma hora, mas tem excepcional repercussão nas redes sociais, chega ao conhecimento dos responsáveis pelas festividades da Paralimpíada Rio 2016, que incluem na cerimônia de abertura uma versão para deficientes físicos da “biciclóptica”.

Guto Lacaz, “Biciclóptica”, artista com obra, Largo da Batata, 2015
Desenho Guto Lacaz 


Guto Lacaz, “Biciclóptica”, adaptação para abertura das Paralimpíadas, Rio de Janeiro, 2016
Desenho Guto Lacaz 

A segunda intervenção tematizando o círculo ocorre no Largo da Batata em 2017, depois de um périplo pela cidade. A ideia original foi concebida há cerca de quinze anos para atender o convite feito por Rudá de Andrade para uma intervenção no Centro Cultural Oswald de Andrade, no Bom Retiro. Guto Lacaz imagina uma roda de grandes dimensões a girar e a se deslocar apoiada no guarda-corpo do terraço interno. Na ausência de verba para um projeto tão ousado, o artista entra com projeto cultural amparada por lei estadual (Proac), mas a iniciativa esbarra no DPH, que não fornece laudo sobre o impacto no imóvel histórico.

Guto Lacaz, “Adoraroda”, Largo da Batata, São Paulo, 2017
Foto Edson Kumasaka 


Guto Lacaz, “Adoraroda”, fabricação, Largo da Batata, São Paulo, 2017
Foto divulgação 

No ano passado o artista é convidado pela produtora cultural Elo3 para realizar uma obra efêmera em instituição cultural no escopo da 7ª Mostra 3M de Arte Digital. Guto Lacaz, como é recorrente em sua trajetória, abre seu baú de ideias não realizadas e resgata a roda gigante, mas propõe que ela se apresente em espaço público, para que o resultado seja um “acontecimento arquitetônico em espaço aberto ao invés de uma instalação artística dentro de espaço arquitetônico”. A primeira alternativa seria o Viaduto Santa Efigênia, proposta abortada pela impugnação da prefeitura visando a proteção do monumento histórico. A demanda é deslocada para a Prefeitura Regional de Pinheiros, que fica responsável pelo local definitivo. Assim, a obra efêmera Adoraroda (12) se apresenta por um mês no Largo da Batata, entre novembro e dezembro de 2017, com o detalhamento das partes mecânicas a cargo do engenheiro Ernesto Tuneu, a usinagem e montagem do conjunto sob a responsabilidade de Tirso Pires, e obra civil capitaneada pelo arquiteto Paulo Masson. O título da obra é um palíndromo engenhoso, que aponta para a ida e volta da roda gigante sobre uma base em estrutura metálica, movimento que se realiza graças ao público entusiasmado, que adora a roda.


Guto Lacaz, “Adoraroda”, projeto, Largo da Batata, São Paulo, 2017
Desenho Guto Lacaz 


Guto Lacaz, “Adoraroda”, projeto, Largo da Batata, São Paulo, 2017
Desenho Guto Lacaz 

Revela-se nessa trajetória de quase três décadas uma certa ambiguidade, presente no procedimento do artista e na própria obra. De um lado a invenção do objeto, controlado pelo desenho e decisões técnicas. De outro, a descoberta de sua potência simbólica, narrativa, emotiva. A enorme curiosidade sobre o comportamento dos corpos submetidos às leis da física se encaminha para a fabricação do artefato, obediente às técnicas e cálculos de especialistas, sempre convocados para resolver problemas mais intrincados. Contudo, ao convocar as pessoas à fruição onírica e às reminiscências infantis, demonstra grande empatia com o público, sugerindo o segredo para o impacto de suas obras. Uma ambiguidade em alguma forma controlada, onde o engenho da invenção convive com o prazer da descoberta.

Guto Lacaz, “Adoraroda”, foto da maquete da versão original, Centro Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, sem data
Foto divulgação 

Guto Lacaz, “Adoraroda”, simulação da segunda versão, Viaduto Santa Efigênia, São Paulo, 2017
Imagem divulgação 
Tais atributos são detectáveis na quase totalidade da obra artística de Guto Lacaz, mas ganha maior expressão em suas obras de caráter público, inseridas em espaços livres, imersos na vida cotidiana. Assim como incentiva a presença e, eventualmente, a participação direta do público, Lacaz explora as forças da natureza presentes na gravidade, na terra, na água, no ar – em Alex Alex (13), homenagem a Alex Vallauri ocorrida no Centro Cultural São Paulo em 2015, o artista sugere o congelamento do ar na forma do spray saindo das latas de tinta usadas pelo grafiteiro.

Guto Lacaz, “Alex Alex” (homenagem a Alex Vallauri), Centro Cultural São Paulo, 2015
Foto Edson Kumasaka 

Guto Lacaz, “Alex Alex” (homenagem a Alex Vallauri), projeto, Centro Cultural São Paulo, 2015
Desenho Guto Lacaz 
O caráter surrealista ou dadaísta presente em suas máquinas e instalações catapulta a apreensão da obra pelo público, habituado a um mundo mecanizado organizado para a produção e consumo de bens. Os espaços públicos, cada vez mais solos inóspitos para a passagem de pessoas apressadas e ensimesmadas, se transformam em lugares amigáveis, propícios às trocas e interações. Cada objeto lúdico de Guto Lacaz resulta em um lugar de aconchego, de hiato na vida acelerada da urbe, em oferenda gratuita de calma, tranquilidade e felicidade para os cidadãos, um recanto que possibilita a meditação, a sensação do telúrico, a evocação da transcendência espiritual.
As traquitanas de Guto Lacaz propõem um jogo, uma descoberta, uma renúncia das normas e convenções que controlam o dia a dia, um movimento libertário no interior de cada um; elas contrabandeiam para o imaginário coletivo a consciência do valor relativo e muitas vezes ínfimos dos códigos sociais vigentes. Os artefatos que funcionam mas nada produzem nos revelam algo do maravilhoso que envolve a existência.

Fonte dessa pesquisa Link
https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.195/6893

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Abilio Guerra


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