Artistas Visuais Contemporâneos



Kerry James Marshall:





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Kerry James Marshall
Biografia

DescriçãoTraduzido do inglês-Kerry James Marshall é um artista americano nascido em Birmingham, Alabama. Ele cresceu no centro de Los Angeles e agora vive em Chicago, Illinois, onde lecionou anteriormente na Escola de Arte e Design da Universidade de Illinois em Chicago. Ele se formou em 1978 na Otis College of Art and Design. Wikipedia (inglês)





Na produção de Kerry James Marshall, as perguntas sobre questões raciais e sobre a pintura são recíprocas, num entrelaçamento entre experiências pessoais, sociais e históricas. O questionamento sobre a ideia de representação e a crítica à história da arte são formulados ao mesmo tempo em que as pinturas discutem como os negros foram representados e tratados na história social.



Na própria construção das obras, há um nexo com a discussão social que interessa ao artista: Marshall utiliza diversos tons de preto na construção das figuras, não apenas como sombra ou fundo, mas como uma “cor ativa”.  Além disso, há toda uma retórica no uso da palavra “preto” no movimento negro norte-americano: black power, Black Panthers, black is beautiful, black aesthetics.



A formação da obra de Marshall se deu nos anos 70, no sul dos Estados Unidos, mas o artista começou a expor regularmente só nos anos 80, em um contexto em que diversos artistas trabalhavam com imagens derivadas de outras imagens [2]. Marshall recorre aos mais diversos recursos sedimentados ao longo da tradição da pintura para rever criticamente as narrativas da história da arte em relação ao presente. Da perspectiva linear a uma gestualidade já codificada, das escalas de cinzas – como nas pinturas “grisaille” do final do século XVIII – às cores ácidas tão presentes na vida contemporânea, Marshall transita com muita liberdade entre os mais variados registros de pintura, afirmando, simultaneamente, diversos recursos, estilos e múltiplas narrativas possíveis sobre os negros dentro dessa história.


O foco da produção de Marshall na pintura nos leva a pensar sobre os limites das narrativas sobre os negros nessa mídia – seja pelo número reduzido de pintores negros ao longo da história, seja pelas imagens reiteradas de subalternidade dos negros na tradição pictórica (obviamente como reflexo da vida social). Sua obra propõe imagens de sociabilidade, afeto e autonomia que não foram produzidas sobre os negros ao longo do tempo.


Ao mesmo tempo que são imediatas em seus  posicionamentos, as obras de Marshall indicam as diversas mediações históricas que o artista encampa. Ele opera dentro do reconhecimento da história da pintura, e de sua condição de se tratar de imagens constituídas e informadas por outras imagens, com seus esquemas, códigos e convenções particulares. As descrições de acontecimentos cotidianos, coincidem com uma reflexão sobre a história da pintura, repensando as possibilidades narrativas de ambos os campos.


A relação com a história da arte, no entanto, não é apenas de citação: para cada trabalho ao qual Marshall recorre ao  passado, atualiza correspondências no presente, seja em acontecimentos sociais ou das atuais formas de circulação e produção de significados. O tratamento individualizado com os referentes usados em sua pintura não é  uma mera inclusão da figura do negro nos esquemas clássicos da história da arte, mas sim uma reflexão crítica sobre este campo que, além da mera denúncia, expande suas possíveis relações.


Partir das narrativas dominantes da pintura ocidental não deixa de lado as discussões identitárias, nem as reduz a qualquer essencialismo. A escala de muitas dessas obras  aponta para sua vocação pública – o destino mais esperado para os trabalhos de Marshall é o museu, lugar onde a crítica à história da arte se faz mais incisivamente com a inserção de figuras negras na própria discussão sobre a tradição. O trabalho de Marshall, assim, não se reduz apenas a uma política de reparações.


O modo como diversas de suas pinturas tematizam espaços, dispositivos e estruturas que tratam justamente de visualização, visibilidade e representação está associado a uma discussão mais ampla sobre a natureza da representação.




Artigo:Uma escola de beleza.
por Leandro Muniz.




AdicionKerry James Marshall, “Sem título”, 2009, Acrílico em painel PVC.ar legenda


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“A negritude não é negociável nessas pinturas”, Marshall explicou em uma entrevista concedida em outubro à “T Magazine”. “É também inequívoco — eles são negros —; é isso que quero que as pessoas identifiquem imediatamente. São negros para demonstrar que a negritude pode ter complexidade. Profundidade. Riqueza.”

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As figuras de Marshall estão “empenhadas” em verem e em serem vistas – eventualmente na própria ação de pintar: espelhos, vitrines, palcos e outros dispositivos de visualização e reflexão demonstram como as imagens, sua produção e exibição funcionam.


Assim como esses mecanismos são discutidos na obra, há uma noção ampla de “beleza” no trabalho de Marshall que é, ao mesmo tempo, uma estratégia de sedução – pelos diversos recursos pictóricos da construção das obras –  e crítica – historicamente, as imagens produzidas sobre os negros não estavam ligadas à ideia de beleza. Em entrevista ao Art 21, o artista diz: “Quando as pessoas pensam em beleza, pensam em signos de beleza, mas é muito mais profundo e complicado do que isso. A maneira como eu penso em beleza é: um estado de ser que tem algum fascínio, ou como algo que apresenta algum fascínio para você como observador. É certamente algo cativante. Beleza é uma experiência fenomenológica e um componente básico disso é a dúvida. Eu não acredito que simplesmente porque eu sou um artista ou porque alguém é um artista que as pessoas têm que dar atenção às coisas que faço. Temos que nos esforçar para ganhar a atenção do nosso público e uma das maneiras de conseguir essa atenção é através de experiências fenomenológicas que sejam fascinantes”.


A discussão racial na obra de Marshall, para além de qualquer mito de origem, indica múltiplas de formas de ser, num entrelaçamento entre uma variedade de sujeitos, estilos, narrativas pessoais, histórias, culturas, tradições e movimentos sociais. Sua produção “fagocita” a tradição ocidental para devolver novas possibilidades de sociabilidade e de afeto, justamente por inserir no cânone clássico a presença do corpo negro com suas singularidades.


Considerando as diferenças em relação ao contexto norte americano – ao qual essa obra responde em seus temas e em sua alta circulação institucional – parece hoje fundamental pensar a obra de Kerry James Marshall no contexto brasileiro. O artista promove uma discussão sobre uma “produção negra” que não apenas reitera as imagens que circulam na mídia, ou nos livros de história, para propor a presença de figuras negras em situação de sociabilidade e autonomia. Não se trata, em absoluto, de sanar discussões sociais que deveriam ser resolvidas no campo político, mas, sim, a partir de uma discussão sobre a própria história da pintura, repensar a situação social dos negros. Marshall, assim, nos propõe experiências mais complexas – tanto em relação à arte, quanto à vida social.


 Podemos encontrar o uso do preto como retórica da discussão racial no campo da arte na produção de outros artistas como norte americanos como Kara Walker, Glenn Ligon ou Lorna Simpson, por exemplo .

Ver entrevista entre Kerry James Marshall e Helen Molesworth http://www.artecapital.net/entrevista-213-kerry-james-marshall

Além dos diversos títulos e composições das próprias pinturas, as exposições de Marshall têm títulos que remetem a visibilidade e visualização como “On display” ou  “Look see”

Entrevista ao Art21 https://art21.org/read/kerry-james-marshall-rythm-mastr/ (Tradução Livre)


Leandro Muniz é artista e curador. Estudante de artes plásticas na USP e assistente de curadoria no Pivô. Foi curador das mostras Tropical extravaganza: Paola e Paulina, SESC Niterói (2018); Disfarce, Oficina Cultural Oswald de Andrade (2017) e I’II be your mirror, no Espaço Breu (2017), onde organiza o projeto “Conversas no BREU” em parceria com Rafaela Foz. Como artista, já expôs em espaços como o DAP Londrina, Espaço das Artes USP, Sesc Ribeirão Preto, Salão Anapolino, Salão de Piracicaba, Fábrica Bhering e Ateliê397.









 Histórico da carreira.


Kerry James Marshall (nascido em 17 de outubro de 1955) é um proeminente artista afro-americano contemporâneo. Ele abriu caminho para os artistas negros, subindo para o escalão superior do mundo da arte, mantendo-se firmemente dedicado a apresentar trabalhos que exploram a experiência negra na América. Sua experiência crescendo no bairro de Watts, no sul do centro de Los Angeles, influenciou profundamente sua arte.

Fatos rápidos: Kerry James Marshall

Ocupação: Artista

 Nascimento: Birmingham, Alabama, 17 de outubro de 1955

 Educação: Otis College of Art and Design

Trabalhos selecionados: "Voyager" (1992), "Muitas mansões" (1994), "Retrato de Nat Turner com a cabeça de seu mestre" (2011) Citação notável: "Uma das razões pelas quais eu pinto pessoas negras é porque sou uma pessoa negra".


Início da vida e carreira


Nascido em Birmingham, Alabama, Kerry James Marshall mudou-se com sua família para o bairro de Watts, no sul do centro de Los Angeles quando criança. Ele cresceu cercado pelos movimentos de Direitos Civis e Poder Negro da década de 1960. Ele foi testemunha ocular dos distúrbios de Watts ocorridos em agosto de 1965.

Quando adolescente, Kerry James Marshall participou de uma aula de desenho de verão no Otis Art Institute em Los Angeles, depois que um professor o indicou para inclusão. Lá, ele foi apresentado ao estúdio do artista Charles White, que mais tarde se tornou seu instrutor e mentor.

Kerry James Marshall se matriculou como estudante em tempo integral no Otis Art Institute em 1977 e se formou em Belas Artes em 1978. Ele se mudou para Chicago em 1987 após concluir uma residência no Studio Museum em Harlem, Nova York. Marshall começou a lecionar na Universidade de Illinois em Chicago em 1993 e ganhou uma bolsa "genial" da Fundação John D. e Catherine T. MacArthur em 1997.

História como Assunto




Muitos dos trabalhos de Kerry James Marshall fazem referência a eventos da história americana como assunto principal. Um dos mais proeminentes é "Voyager", de 1992. O barco apresentado na pintura é nomeado "Andarilho". Ele faz referência à história do antigo iate que foi o último navio a trazer um grande número de escravos africanos para a América. Violando uma lei de 50 anos que proíbe a importação de escravos, o "Andarilho" chegou à Ilha Jekyll, na Geórgia, em 1858, com mais de 400 escravos a bordo. Foi o evento final na história do tráfico de escravos na América.

Em 2011, Marshall pintou "Retrato de Nat Turner com a cabeça de seu mestre". É um retrato quase completo, à maneira do retrato tradicional, mas a imagem terrível de um homem morto durante o sono deitado atrás de Nat Turner é arrepiante. O evento histórico mencionado é a rebelião de escravos de dois dias liderada por Nat Turner em 1831.


Projetos Habitacionais


Em 1994, Kerry James Marshall pintou uma série intitulada "The Garden Project". Ele descreve a vida em projetos de habitação pública nos EUA, inspirados em sua própria experiência em Nickerson Gardens, um complexo de apartamentos com 1.066 unidades no bairro de Watts, em Los Angeles. Suas pinturas da série exploram a dicotomia entre as imagens evocadas pelos nomes dos projetos usando a palavra "Jardins" e a realidade da vida dura em habitações públicas. É uma metáfora para a vida dos afro-americanos na América contemporânea.

Uma das peças principais é "Many Mansions", de 1994. Mostra três homens negros em roupas formais realizando o trabalho manual de plantar flores para um projeto habitacional. Sua representação está no centro da justaposição de Marshall do ideal evocado pelo conceito de um projeto de habitação pública com a realidade das experiências dos moradores.

Outra pintura da série, "Better Homes, Better Gardens", mostra um jovem casal idílico de preto passeando por um conjunto habitacional de tijolos. A inspiração para esta peça é o Wentworth Gardens de Chicago. É notório por uma história de violência de gangues e problemas com drogas.


Conceito de beleza



Outro assunto frequente do trabalho de Kerry James Marshall é o conceito de beleza. As pessoas retratadas nas pinturas de Marshall geralmente têm pele muito escura, quase plana, preta. Ele explicou aos entrevistadores que criou o extremo para chamar especificamente a atenção para a aparência distinta dos negros americanos.

Em uma série de pinturas de modelos de 1994, Marshall mostra modelos pretos masculinos e femininos. O modelo masculino é mostrado contra um fundo predominantemente branco que enfatiza a escuridão de sua pele. Ele está levantando a camisa para presumivelmente compartilhar o poder de seu físico com os espectadores.

Ele pintou uma modelo negra de topless com os nomes Linda, Cindy e Naomi inscritos no canto superior direito. São as supermodelos icônicas Linda Evangelista, Cindy Crawford e Naomi Campbell. Em outra pintura de modelo, Marshall justapôs a imagem do rosto da modelo negra com a de modelos loiros e brancos.

Mastry

Em 2016, o trabalho de Kerry James Marshall foi objeto da retrospectiva historicamente significativa "Mastry" no Museu de Arte Contemporânea de Chicago. A exposição cobriu 35 anos do trabalho de Marshall com quase 80 peças.Mastry

Em 2016, o trabalho de Kerry James Marshall foi objeto da retrospectiva historicamente significativa "Mastry" no Museu de Arte Contemporânea de Chicago. A exposição cobriu 35 anos do trabalho de Marshall, com quase 80 peças exibidas. Foi uma celebração sem precedentes do trabalho de um artista afro-americano.

Além de sua celebração aberta da experiência negra na América, muitos observadores viram o trabalho de Kerry James Marshall como uma reação ao movimento de grande parte do establishment artístico da pintura tradicional. Ao contrário dos experimentos célebres da arte minimalista e conceitual, Marshall cria seus trabalhos visando organizar seu assunto de maneiras que remontam às tradições da arte da era renascentista. Kerry James Marshall explicou que ele está mais interessado em ser pintor do que em criar "arte".

Quando a exposição "Mastry" viajou para o Metropolitan Museum of Art em Nova York, Kerry James Marshall selecionou 40 obras da coleção permanente do museu que ele particularmente valorizou como inspiração. A exibição dentro de uma exibição foi intitulada "Kerry James Marshall Seleciona".


Controvérsia de Obras Públicas


Em 2018, as pinturas de Kerry James Marshall foram manchetes em duas controvérsias sobre o valor da arte pública, em contraste com o benefício de serviços públicos que poderiam ser fornecidos com o dinheiro ganho com as vendas da arte. Em maio, o Metropolitan Pier e a Exposition Authority de Chicago venderam a peça monumental "Past Times" para o artista de rap e empresário Sean Combs por US $ 21 milhões. O preço de compra original era de US $ 25.000. A peça estava pendurada no centro de convenções McCormick Place em exibição pública. O dinheiro ganho com o leilão proporcionou uma receita inesperada ao orçamento do órgão público.

Ainda mais polêmico foi o anúncio do prefeito de Chicago, Rahm Emmanuel, de que a cidade venderia a pintura de Kerry James Marshall, em 1995, "Conhecimento e Maravilha". Ele estava pendurado na parede em um dos galhos da biblioteca pública da cidade. Encomendados por US $ 10.000, os especialistas estimaram o valor da pintura em algo próximo a US $ 10 milhões. Emmanuel planejava usar os recursos da venda para expandir e atualizar uma filial da biblioteca no lado oeste da cidade. Após críticas intensas do público e do próprio artista, a cidade retirou os planos de vender a obra em novembro de 2018.

Fonte

 Tate, Greg, Charles Gaines e Laurence Rassel. Kerry James Marshall. Phaidon, 2017.
 texto livremente traduzido segue link original

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