Hiper-realismo

Hiper-realismo

A arte moderna, embora muitas vezes imbuída de ideais revolucionários e vanguardistas dos movimentos abstracionistas, nunca recusou inteiramente a vontade de representar ou copiar a realidade.

 As ligações a linguagens realistas e figurativas, de caráter imitativo ou narrativo, ligado à tradição artesanal da pintura ou da escultura, foram surgindo ciclicamente, através de várias correntes pictóricas, ao longo do século XX.
Nos anos 60, esta recuperação das tendências realistas, determinadas por uma crescente rejeição do esgotado Expressionismo Abstrato e da Action Painting, surgem em correntes tão díspares como a Arte Pop, A Figuração Narrativa, o Neorrealismo e, de forma mais difusa, no Nouveaux Réalisme e na Arte Povera. Movimentos estes que têm como denominador comum a revalorização da cultura popular e dos objetos típicos da civilização urbana e industrial. 

 O Hiper-realismo, também conhecido por Foto-realismo, Super-realismo ou Realismo Radical, constituiu a vertente americana do movimento neorrealista. Inspirando-se na iconografia e na tendência para o uso de fotografias e de serigrafias característicos da Arte Pop e no naturalismo da Figuração Narrativa europeia, levou as suas premissas estéticas e formais, a uma forma extrema de figuração, bem representada pelos trabalhos dos pintores americanos integrados na exposição "22 realists", apresentada em 1970 em Nova Iorque.

A partir deste momento, o Hiper-realismo assume-se como uma corrente autónoma que procurava desenvolver uma linguagem de cariz fotográfico, de dimensão mítica e monumental, possível pela idealização e extremo virtuosismo da própria técnica. Para conseguir reproduzir todos os detalhes e vibrações cromáticas e texturais, estes artistas utilizavam frequentemente o aérografo e recorriam à projeção sobre as telas de diapositivos que continham as imagens a reproduzir.
O carácter fotográfico desta linguagem imprimiu-lhe uma qualidade de trompe-l'oeil que a tornava especialmente adequada para a criação de pinturas ilusórias murais de grande dimensão.
No entanto, esta arte realista e descritiva, só aparentemente era objetiva desprovida de qualquer emocionalidade. De facto, embora os temas fossem perfeitamente identificáveis, muitas vezes correspondiam a encenações ou manipulações de imagens reais que resultavam na construção de um olhar intencionalmente crítico sobre essa realidade.
Os artistas que integraram este movimento abordaram temáticas muita diferenciadas, embora tivessem sempre partido de elementos típicos da cultura americana. Assim,
John Kacere procurou desenvolver de forma quase obsessiva, imagens de mulheres seminuas.

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Richard Estes preferiu as vibrantes as fachadas de lojas e Don Eddy especializou-se na representação de lustrosas e brilhantes viaturas e motos. Chuck Close tornou-se famoso pelos retratos frontais e grande dimensão, absolutamente verosímeis e executados com a precisão mecânica de um máquina fotográfica.
John De Andrea foi um dos poucos artistas hiper-realista ligados à escultura, criando uma série de trabalhos em poliester e fibra de vidro pintado que eram absolutamente realistas. 
                
Durante a década de 70, esta corrente atinge os países europeus, nomeadamente a Inglaterra e a Alemanha, influenciando a obra de pintores como David Hockney e Peter Klasen


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Menos ligados aos processos de reprodução de sentido fotográfico característica da corrente hiper-realista e recusando geralmente o carácter polido e virtuosístico dos pintores americanos, os pintores europeus, desenvolveram uma linguagem neorrealista cruzada com influências da Arte Pop.





 O artista contemporâneo Ron Mueck é um escultor australiano que trabalha na Grã-Bretanha. Cresceu vendo seus pais construírem brinquedos. Sua mãe fazia bonecos de pano e seu pai brinquedos de barro. Em suas obras, o artista utiliza materiais como resina, fibra de vidro, silicone, argila. O processo de suas esculturas passa pelo seguinte: primeiro, são moldadas em argila; depois, fundidas em silicone; a partir de um molde; por último, têm cabelos e os olhos implantados, além de receberem roupas e acessórios. As suas esculturas reproduzem fielmente detalhes do corpo humano, mas brinca com a escala, por vezes muito grande, para criar uma observação desconcertante no público. Como, por exemplo, a escultura Boy (1999) que possui cinco metros de altura e foi exposta na Bienal de Veneza.
 
 
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A escultura Dead Dad, de 1996 (acima), que ele expôs na Sensation, foi um dos fatores para sua notoriedade. Ela retrata o corpo nu de seu pai pouco tempo após a morte (que ele não pode presenciar) e é perfeito em cada ruga e em cada pelo (é a única obra onde utilizou seu próprio cabelo), mas do tamanho do corpo de uma criança, o que nos dá uma estranha sensação. A obra impressionou os críticos de arte. A partir daí, Mueck participou de diversas exposições individuais e coletivas na Inglaterra, Alemanha e Nova York e foi um dos selecionados para expor seu trabalho em outro evento polêmico, o Millenium Dome, em Londres, além de ter participado da 49ª Bienal de Veneza.



Os assustadores gigantes de Ron Mueck






Os assustadores gigantes de Ron Mueck



No começo de sua carreira, ele nem imaginava que teria uma, trabalhou durante 15 anos como modelista e marionetista na televisão infantil, até que foi apresentado a maquiagem de efeitos especiais e passou a trabalhar para o cinema em filmes de fantasia como "Labirinto", de 1996 que tinha David Bowie como protagonista.

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Na década de 1990, começou a sua própria empresa, criando modelos para serem fotografados para anúncios. Naquela época, a maioria de suas obras somente eram parcialmente concluídas, já que necessitavam apenas de um determinado ângulo para a fotografia. Foi quando, em última instância, concluiu que fotografia destrói a presença física do objeto original, então voltou sua atenção para a arte e escultura. Não podia ter decisão mais sábia, as suas obras hiperrealistas de arte ganharam o reconhecimento internacional e ele deve ser o escultor mais reconhecido da atualidade.


Os assustadores gigantes de Ron Mueck
Ron Mueck nunca fez uma escultura em tamanho natural, porque acha que não parece muito interessante:

- "Nós nos encontramos pessoas de tamanho real todos os dias, que graça teria?", diz ele. Em vez disso, optou por brincar com a escala na criação de gigantes imponentes assegurando ao mesmo tempo que pareçam tão humanos quanto possível. A cor da sua pele, as menores rugas em seus rostos, cada detalhe é contabilizado, fazendo suas esculturas parecerem assustadoramente realistas. Nos primeiros dias de escultura, o artista usava látex como seu principal meio. No entanto estava à procura de algo mais forte, mais preciso. Foi então que um dia viu uma pequena decoração arquitetônica na parede de uma boutique, e perguntou sobre a natureza do material. Descobriu a resina de fibra de vidro, e desde então esta passou a seu meio de arte favorita.


Questionado sobre sua relação com os gigantes da vida, de como ele cria, se os considera quase humano ou apenas grandes manequins, Ron Mueck, disse:

- "Eu não penso neles como manequins e por isso tento criar uma presença convincente para que o espectador chegue a sua frente e fique questionando se aquilo é real ou não, mesmo sabendo que não é. Mas, afinal, eles são objetos de fibra de vidro que a gente pode pegar e levar de um lado pra o outro. Se fossem bem sucedidos, como coisas divertidas para ter no quarto, eu já estaria feliz. A única coisa que me deixaria insatisfeito é se eles não causassem nenhum tipo de presença que não suscitasse o pensamento das pessoas além de sua natureza de simples objetos".

O caso é que vendo as obras do artista a gente nem pensa em imaginar seu método de criação, por isso este vídeo é tão curioso: um time-lapse que mostra todo o processo de criação de "Baby", do começo até o fim. Uma trabalheira só.

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